quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Salão do Automóvel 50 anos



O texto abaixo é muito interessante, reforça minha decepção com a edição de 50 anos do Salão do Automóvel, depois de ler o texto, fiquei com raiva da industria automotiva Brasileira e outras coisas mais...

Nossa indústria do automóvel

O Salão de São Paulo edição de 50 anos  mostra um retrato
de nosso mercado de automóveis - um retrato bonito ou feio?
por Roberto Agresti

Estive no Salão do Automóvel e me impressionei com o pouco que vi. Digo pouco pois, infelizmente, não estava "a paisana", andando pelos corredores sem destino nem prazo, olhando o que interessava e também o que não. Estive a trabalho, frequentando as chamadas coletivas de imprensa, onde as fábricas nos brindam com seus discursos oficiais, novidades, salgadinhos e até presentinhos.

Frequentador do Salão desde muito tempo, para mim tanto faz estar lá à paisana ou em missão oficial, pois é sempre um intenso prazer estar rodeado de carros e de gente que trabalha com eles, os fabrica, os inventa, vende, importa, dirige e, fundamentalmente, gosta deles, como eu. Contudo, não vou, aqui, fazer o previsível discurso do que vi e gostei e do que vi e não gostei, mas sim um questionamento que, espero, nos leve a reflexões que, suponho, são devidas.

Digo isso pois ao comentar sobre o Salão com um caro amigo, homem que conhece automóveis bem mais do que eu, que trabalha com eles e gosta muito deles, ouvi um lamento, um pesar sobre esta edição de 50 anos do evento.

Sustenta meu amigo que a sensação que ele teve após percorrer os corredores da mostra é que a indústria nacional está mal encaminhada, ou melhor, a clássica indústria, a velha e conhecida turma de marcas — a saber, Fiat, Ford, General Motors e Volkswagen. Segundo ele, essas quatro não têm nada.

"Nada?" Como assim?", protestei eu.

E o que se seguiu me fez ver que o discurso fazia sentido, pois efetivamente, de acordo com um prisma amargo — mas realista — de meu interlocutor, as "quatro grandes" estão ou produzindo carros ultrapassados e sem futuro, ou novidades que não são dignas de nota. E enquanto elas fazem isso, as marcas mais recentes em nosso país — muitas delas até sem fábrica local, apenas simples importadoras — deitam e rolam propondo veículos que dão de dez a zero nos desovados no ABC paulista ou nas cercanias de Belo Horizonte. Dez a zero em tecnologia e com preços competitivos. Como pode, com alíquota de importação tão elevada?

Não deixa de ser desconfortável verificar que os carros de maior conteúdo tecnológico, os seja, os melhores das "quatro grandes", sejam montados em fábricas bem distantes do Brasil. Aos exemplos: Passat e Jetta da VW, que vêm da Alemanha e do México, na ordem. Fusion e Edge da Ford, do México e do Canadá. GM? É da Austrália que vem o Omega, enquanto o Malibu vem dos EUA e o Captiva do México. E a Fiat? Traz o 500 da Polônia, não é?

O pior é que é: pelo visto, no Brasil só vale a pena fazer carros simplinhos, esses bem pé-de-boi. Claro que há exceções, como a Mercedes-Benz, que faz o CLC aqui. Para quem não lembra o que é, trata-se do Classe C hatch de 2000 com uma remodelação visual, ou seja, um carro de projeto contemporâneo ao daquele Civic que saiu de linha há quatro anos.

Tem também a Renault, que faz aqui Logan e Sandero que lá na Europa existem, mas não são Renaults e sim Dacias — marca de segunda linha do panorama de lá. Peugeot ia bem aqui, fazendo carros iguais aos lá de fora, mas de um tempo para cá inventou um 207 que não é 207 (e sim um 206 retocado) e continua vendendo o bom 307 quando lá a página já foi virada há anos; 308 é o carro. Citroën? Mais ou menos idem, pois já há novos C3 e C4 sendo fabricados na Europa. E a Honda, com esse City, pensado para "mercados emergentes" e que não se vende no Japão e na Europa?
Livre concorrência
Pensando bem, esse panorama de diversidade automobilística que vi no Salão, com marcas de todo o planeta expondo, das caras às baratas, é um cenário saudável de livre concorrência bem melhor do que aquele vigente até algum tempo atrás, onde só se viam quatro estandes, das citadas grandes de nosso mercado.

Contudo, incomoda a meu amigo — e a mim por tabela — ver que viramos (ou sempre fomos?) fabricantes de carros com pouca tecnologia, que me parecem destinados não a fazer de nossa indústria uma válida "player" do mercado mundial, mas apenas uma abastecedora do mercado interno, cuja massa ainda pouco exigente se contenta com arremedos, com maquiados, com veículos que lá fora seriam considerados risíveis por consumidores exigentes. Mas que nós, placidamente, bovinamente, compramos. E pagamos caro, muito caro.

Não desejaria voltar no tempo, aos obscuros anos onde éramos obrigados a comprar apenas o que era "made in Brazil". Mas gostaria, e meu iluminado amigo também, de ver no ABC, em Betim ou onde quer que seja em nossa terra, brasileiros trabalhando em multinacionais fazendo carros para brasileiros e para o resto do planeta, sem diferenças, sem especificações "BR" que soem a empobrecimento técnico, que nos releguem a um terceiro mundo industrial e à consequente falta de competitividade diante de outros países industrializados.

Muitos dos carros de marcas sem tradição em nosso mercado oferecem mais por menos. Entre os chineses é possível comprar um carro superequipado, com bolsas infláveis, freios antitravamento, interiores caprichados em materiais e componentes, pelo preço que as tradicionais indústrias locais cobram por um carro pelado.

Dumping é uma palavra inglesa que determina uma ação mal vista no comércio, que é vender por menos do que custa qualquer produto, visando a ganhar mercado ou quebrar os concorrentes — ou ambos. Da boca de muitos executivos das marcas há muito instaladas aqui, essa palavra sai facilmente ao se referirem aos preços dos chineses. Mas será mesmo?

Perdoem minha imprecisão ou falta de referimentos exatos, mas o fato é que NENHUMA fábrica abre suas planilhas de custo para jornalista nenhum, e por conta disso nós apenas "achamos" isso ou aquilo e não "sabemos" com concretude. Todavia, "acho" que, assim como em outros setores de nossa economia, o segmento de veículos ainda está impregnado de um vício grande e ruim — uma margem de lucro exagerada face aos padrões de outros países industrializados, talvez resquício de tempos em que o volume de vendas era uma fração do que é hoje.

Não duvido que chineses troquem seis por meia dúzia para entrar em qualquer mercado, pois pensam em recuperar as perdas a longo prazo e parecem ter fôlego para tal. No entanto, a cultura da inflação, tão recente entre nós, ainda causa mazelas — e suponho que uma delas é a tal margem alta. Sinceramente, já ouvi dizer que os executivos estrangeiros, quando chegam aqui para trabalhar nas subsidiárias de suas empresas, ficam maravilhados com a lucratividade proporcionada pelas vendas em nosso bananal.

Outro problema? Nós pagamos e não chiamos. Ou por falta de parâmetro, ou sei lá por que, o costume de protestar contra quem pratica preços exorbitantes, ou mesmo de boicotar um produto caro, não é hábito brasileiro. Então, arquemos com as consequências.

Sergio Habib, homem que plantou a Citroën no Brasil e hoje vive outras aventuras - digamos - mais asiáticas, falou numa entrevista na TV algo mais ou menos assim: "Os japoneses demoraram 30 anos para aprender a fazer automóveis, os coreanos 15. Os chineses demorarão de cinco a sete, e já se passaram cinco de quando começaram a fazê-los".

Dirigiremos todos carros chineses no futuro? Talvez sim, e eu nada terei contra se eles forem bons, honestos e se me emocionarem também, pois para mim carro não é apenas meio de transporte. Mas, até por conta dessa emotividade, não gostaria de ver nossas indústrias fazendo apenas cacarecos mal ajambrados e caros. Não mesmo.



CRÉDITOS TOTAIS: Best Cars Web Site - www.bestcars.com.br

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