quinta-feira, 28 de julho de 2011

Besouro com Ferrão



Nova geração do Beetle aposta no temperamento esportivo para perder imagem de 'carro fofinho'

Publicada em 27/07/2011 às 17h02m
Jornal O Globo
Jason Vogel (jason@oglobo.com.br), enviado especial


BERLIM - Como dar cara nova a algo que já é uma recriação? O New Beetle foi lançado em 1997 como um simulacro visual do velho Fusca. O apelo à emoção fez um tremendo sucesso: ao longo de 14 anos, o carro teve 1,3 milhão de exemplares vendidos.

Mas hoje as modas se esgotam rapidamente e é preciso inventar algo diferente para estimular o consumo. Assim, a Volks precisou dar nova cara ao modelo, sem que suas formas deixassem de lembrar o Fusca. Desse dilema pós-moderno nasceu o Beetle (sem o "New"), modelo recém-apresentado na Europa e que chegará ao Brasil no fim de 2012.

A ideia foi acabar com o jeito fofinho e feminino do New Beetle de 1997 e apostar no apelo esportivo - "macho", como a própria Volks faz questão de ressaltar. Para tanto, mexeram no estilo e na mecânica. O que era pura emoção passou a trazer alguma razão.

O capô dianteiro foi esticado e a parte de trás da capota desce mais inclinada - a silhueta ficou mais próxima à que se via no Fusca original, com motor traseiro.

Além disso, o besouro cresceu em largura e comprimento. As lanternas traseiras deixaram de ser redondas "para o carro não ser confundido com o New Beetle dos anos 90", segundo um estilista da Volkswagen.

Por dentro, tudo novo. Aquela área enorme que havia sobre o painel acabou, já que o para-brisa não se estende tão à frente. O interior perdeu o apelo de showroom de lojinha de design para adotar um padrão convencional da marca alemã.

Os instrumentos (antes contidos em um único quadro de forma circular) foram espalhados. Um detalhe sem sentido é o marcador do tanque, enorme, do tamanho do conta-giros.

Vasinho de flor, nem pensar: esse besouro é macho. Em compensação, agora há uma grande tela que une o sistema de som ao GPS. A única bossa retrô é uma tampa do porta-luvas semelhante à que se via no Fusca tradicional.

Na prática, o carro ficou mais abrutalhado, perdendo a harmonia das linhas e o jeitinho de brinquedo do antecessor. A mudança, contudo, deu fim aos dois maiores problemas do New Beetle: agora, o porta-malas é maior que o do Golf e os ocupantes do banco de trás já não batem com a cabeça no vidro traseiro (o que era um perigo...).

Em estilo, o Beetle recém-apresentado perde feio para a originalidade do antecessor. Em compensação, tudo melhorou na parte mecânica, como pudemos comprovar em um teste de 175 quilômetros em torno de Berlim.

Enquanto o modelo de 1997 usava a plataforma do Golf de quarta geração, o novo carro tem como base mecânica o Jetta 2.0 TSI, incluindo a suspensão traseira multibraço.

Esse Fusquinha do século XXI chegará ao Brasil apenas na versão topo de linha que é vendida na Europa. Ou seja: terá o mesmo conjunto mecânico de Jetta, Passat e Tiguan.

É o motor de 2,0 litros com turbo e injeção direta, que rende 200cv. O melhor é que vai acoplado ao câmbio VW de seis marchas com dupla embreagem (vulgo DSG). Trata-se da melhor caixa automatizada do planeta.

O volante tem um miolo que lembra muito o do finado VW SP-2. Pode ser pura coincidência, mas gostamos um bocado deste detalhe...

Os pneus 235/45 R18, que parecem tão exagerados, não chegam a incomodar no asfalto liso do Centro de Berlim. No Brasil, provavelmente transmitirão choques e vibrações.

Metamorfose no comportamento
Na cidade, o carro vai dócil e em silêncio - nem parece que estamos dirigindo um modelo de têmpera esportiva. O motor gira baixinho sem reclamar e o câmbio DSG adivinha os pensamentos do motorista. Na hora do rush, o consumo urbano ficou em 8,2km/h.

Já fora da cidade, numa estradinha sinuosa, o besouro mostrou que pode voar. Pé fundo no acelerador, ele baixa duas marchas e o que se ouve é um zumbido grosso, vindo do escape. Boa! O mundo começa a passar acelerado.

Curva para lá e para cá, e o Beetle não balança. A direção é pesadinha e o pedal do acelerador sai do chão, como mandava o vovô Ferdinand Porsche. Mudar as marchas manualmente, só na alavanca (não há borboletas atrás do volante). E assim vamos pela
autobahn a 180km/h, na maior tranquilidade.

Em baixas rotações, não se percebe qualquer lag do motor turbo. É só pisar que o bicho diz presente. A sexta marcha ajuda na economia - mesmo após a lenha que fizemos, o consumo na estrada foi de 11,2km/l.

É... esse besouro nada tem a ver com o antecessor, que era apenas um carro bonitinho para desfilar pachorrento com seu velho motor de Santana.

Mas nada de se animar: enquanto o New Beetle velho ainda é vendido no Brasil por cerca de R$ 65 mil, a próxima geração chegará do México por estimados R$ 80 mil. O preço também cresceu...

Créditos: Jornal O Globo
Link: http://oglobo.globo.com/economia/carroetc/mat/2011/07/27/nova-geracao-do-beetle-aposta-no-temperamento-esportivo-para-perder-imagem-de-carro-fofinho-924988477.asp

Foto: Internet



*Agradecimento: Thercio Meanda

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